Desde
o fim de 2016, beber cerveja belga é considerado uma “experiência
cultural”, isso porque a UNESCO finalmente decidiu adiciona-la sua
lista de patrimônio imaterial da humanidade, inserindo a cerveja
belga entre as mais altas expressões culturais e tradicionais da
humanidade. Além de ser um grande reconhecimento por um elemento
fundamental da sociedade belga, o aspecto mais gratificante para nós
apaixonados por cerveja é que no texto da UNESCO faz referimento a
“cerveja artesanal”. Em outras palavras não se pode falar de
cultura cervejeira belga sem considerar uma conexão ao conceito de
cerveja artesanal.
A
Bélgica entrou com a sua candidatura para o reconhecimento seguindo
itens burocráticos bem precisos. Entre os documentos que compõe o
dossier formado pela UNESCO, aparecem algumas citações que foram
fundamentais para o reconhecimento ser efetivado.
Um
resumo do texto da UNESCO:
“Produzir
e apreciar uma cerveja é parte fundamental das tradições de uma
ampla variedade de comunidades da Bélgica. Tem uma função primaria
no quotidiano do povo belga, bem como em ocasiões de festas e
celebrações. Quase 1.500 rótulos são produzidos no país
utilizando diversos métodos de fermentação. A partir dos anos '80
a cerveja artesanal começou a se tornar popular. […] Além disso,
a cerveja é muito usada no âmbito gastronômico, como no caso da
criação de queijos com cerveja na maturação. Assim como o vinho
no resto do mundo, na Bélgica a cerveja é muito usada para
harmonizar refeições para exaltar aromas, gostos e sensações.
Diversas associações de produtores e consumidores trabalham em
grande proximidade com as comunidades locais para promover um consumo
consciente da bebida. Além de ser transmitida em casa e nos círculos
sociais, os conhecimentos e habilidades são transmitidos por
mestres-cervejeiros que lecionam aulas em cervejarias, cursos
universitários especializados para profissionais, hospitalidade em
programas de formação geral para os empresários e pequenas
fábricas para cervejeiros amadores.
Uma
grande parte da população belga se identifica com o elemento
“cerveja” e participa de uma ou mais atividades relacionadas a
esse elemento. Milhares de pessoas, organizadas ou não, homens e
mulheres, profissionais ou amadores, lidam diretamente com a cerveja
na Bélgica.
A
cerveja é produzida em todo o território belga. Em todas as regiões
existem cervejarias, clubes, museus (cerca de trinta no total),
cursos de formação, eventos, festivais, restaurantes e bistrôs que
contribuem com o vivaz e criativo panorama cervejeiro local. Vôrias
práticas tem raizes geograficamente limitadas: como por exemplo o
Lambic, um produto que se encontra somente em Bruxelas e em uma
região vizinha chamada Pajotteland e somente durante o inverno; as
antigas cervejas escuras e ácidas produzidas na região Flaminga
ocidental; típicos queijos feitos com cerveja produzidos por
abadias.
Na
Bélgica existem quase 200 cervejarias que juntas produzem cerca de
1500 rótulos, muitas das quais são artesanais ou especiais, de mais
de 50 estilos. Essa variedade deriva da criatividade dos cervejeiros,
da necessidade de consumidores conscientes, um sólido sistema de
compartilhamento e transmissão das informações e uma ampla gama de
soluções tecnológicas e matérias-primas."
Nada
que nós apaixonados por cerveja já não saibamos. Mas uma coisa
talvez os leitores do Loucos por Belgas talvez não saibam, é que
esse reconhecimento por parte da UNESCO para a cerveja belga, fez com
que os alemães “torcessem o nariz”. Exatamente 3 anos atrás, os
alemães foram os primeiros a tentar promulgar a cerveja deles como
patrimônio da humanidade, seguindo a mesma estrada que a Bélgica
seguiu, mas teve o pedido negado. Porém a estratégia adotada pela
Alemanha na época foi diferente da Bélgica, pois eles apostaram
tudo sobre o reconhecimento da Lei da Pureza alemã da cerveja
(Reinheitsgebot) como documento das tradições culturais cervejeiras
locais. Através das minhas pesquisas eu não consegui descobrir o
motivo pelo qual a UNESCO negou o pedido, mas não é difícil
imaginar: primeiramente a Reinheitsgebot era uma lei de “tutela
alimentar” e não uma disciplina qualitativa; segundo, e mais
importante, essa lei contribuiu para o desaparecimento de tantas
especialidades locais que bruscamente não puderam mais ser
consideradas cerveja. Resumindo, sem dúvida não é um elemento a
favor da tradição de um povo.
Podemos
afirmar que a cultura cervejeira da Bélgica não tem a necessidade
de um reconhecimento da UNESCO para ser apreciada em todo o mundo
pelo seu grande valor social, e nisso eu e muitos leitores estamos
totalmente de acordo. Mas o aspecto mais importante, na minha
opinião, é que nesse período de “puristas neo-proibicionistas”,
neste momento histórico em que se criticam facilmente algumas
bebidas alcoólicas ignorando a suas importâncias culturais, o
elemento CERVEJA obtém o máximo reconhecimento possível para um
produto componente da civilização humana. Mostrando para aqueles
que em 2013, afirmavam que a Alemanha estava exagerando em propor que
a sua cerveja virasse patrimônio imaterial da humanidade.
O
ano de 2016 passou, e nos trouxe a alegria de ter uma paixão como a
cerveja belga patrimônio da humanidade. Então a partir do inicio de
2017 a cada cerveja belga que formos beber estamos prestando uma
homenagem a séculos de história, tradição e cultura de um país e
um povo tão devoto a essa bebida.
Vejam
o video que a própria UNESCO montou para finalizaçao do processo de
reconhecimento de patrimônio da humanidade da cerveja belga.
Por:
Douglas Merlo
Biersommelier Doemens Diplom
Italian Beertaster Diplom
BJCP Certified
Mixologist
Por:
Douglas Merlo
Biersommelier Doemens Diplom
Italian Beertaster Diplom
BJCP Certified
Mixologist
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